domingo, 10 de agosto de 2008


Sem palavras

“Sem palavras”. Assim o jornalista Galvão Bueno descreveu (ou deixou de descrever) o momento em que a tocha olímpica foi acesa na 29ª edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, em Pequim. E ele não está certo? Dizer que não há palavras quando, na verdade, não sabemos como usá-las pode ser clichê, mentira ou até um ato de coragem (quando você admite falta de habilidade ou conhecimento para falar de determinado assunto. Ora, isso não é nenhum absurdo e nós devíamos ser mais humildes e tolerantes quanto às opiniões alheias. Começando por mim. Mas essas são outras águas, de outro bule...). Portanto, admitir tal coisa quando, de fato, as palavras nos faltam é mais do que prudente.
O que dizer quando nossos olhos contemplam uma multidão de todas as línguas e raças reunida por uma causa em comum: durante 17 dias celebrar a harmonia, a amizade e a superação? Já vou dizendo que não discursarei sobre a importância da união dos povos e de fazermos desse lema realidade durante o ano inteiro e não só de 4 em 4 anos, porque tudo isso é óbvio. Mas não posso deixar de ressaltar que até os jogos estão se tornando um pretexto para rivalidades econômicas e discursos políticos (não que isso nunca tenha existido...). No entanto, não quero, agora, tomar partido de ninguém (que coisa é essa de sempre nos ausentarmos de opinar? Isso é um blog ou não é? Convenci-me, vou dizer...). Tudo bem. É ambíguo que Pequim e o resto do mundo estejam celebrando os jogos enquanto pela China movimentos separatistas, miséria e repreensão (e opressão) ocorram em larga escala. Ah, então vamos esperar que tudo se resolva para que depois celebremos a festa? Então, nunca faremos nada. O sistema não será mudado. Nossa missão (não digo saída, porque parece que estamos saindo pela porta detrás, encurralados. Não deve ser assim) precisa ser a de provocar rompimentos nesse sistema; dentro das nossas comunidades. Só um exemplo: uma ótima idéia para geração de renda é a formação de cooperativas por famílias pobres que moram em favelas.
A partir desse momento começamos a sonhar (Um mundo, um sonho) e colocamos o plano em prática. Entendo que, talvez, o meu próximo deva alcançar o sucesso primeiro para que, depois, eu desfrute dos benéficos da sua vitória, sendo que o inverso também é válido. Na verdade, a vida do homem não era para ser sempre assim? Descobrir, conquistar, construir, compartilhar? Mas onde fica o último “item”? Compartilhar não é caridade, é vida. É o verdadeiro desfrutar. É absorver a lição de toda a circunstância para a vida. É ter o fruto da paciência e não o da ganância.
Bom, após uma breve ebulição (ah, falar é tão fácil...) gostaria de dizer que chorei com a cerimônia de abertura dos jogos de Pequim. É. Você leu direitinho. Eu chorei. Chorei, porque me emocionou a imagem dos representantes de 204 países reunidos em um só lugar. Chorei, porque vi a engenhosidade humana no espetáculo chinês e até na história desse povo, que inventou a pólvora, o papel, a bússola. Chorei, porque vi que o homem é inclinado, naturalmente, para o bem. Aliás, me emocionei também com uma passeata no centro do Rio. Era por reivindicações trabalhistas. Ali pude ver que não é vergonha nenhuma lutar pelo que se acredita, já que falamos tanto da necessidade de mobilização em uma sociedade comodista, desigual e individualista.
Chorar nessas circunstâncias também me fez lembrar um texto: “Se alguma das famílias da terra não subir a Jerusalém, para adorar o Rei, o Senhor dos Exércitos, não virá sobre ela a chuva.” (Zacarias, 14:17). Creio que a total transformação do homem vem do interior, de um coração que reconhece a sua culpa e seus constantes erros. E ao ser transformado por uma Palavra Viva que fala: não roube, ele é capacitado a entender e cumprir esse mandamento em amor, não somente pela lei. Penso, assim, como seria lindo ver toda essa multidão reunida para celebrar uma alegria permanente! E como seus corações já teriam passado por uma revolução, seria mais fácil ansiar por ela em nível global.